De volta para o futuro

Marcos Oderich e sua esposa Valdete receberam o jogador Zico no estande da empresa Divulgação/FN
  • Matéria do Fato Novo, edição nº 562 da semana 20 a 26 de maio de 1993

Há dez anos, quando os irmãos Marcos e Cláudio Oderich assumiram a direção da fábrica da família, a Conservas Oderich SA, algumas pessoas foram pessimistas, ambos com menos de 30 anos, eles pareciam muito jovens para assumir tamanha responsabilidade. Outros, mais otimistas, vendo a forma série e dedicada pela qual os dois jovens se dedicavam ao trabalho, pensaram diferente e fizeram o tradicional comentário: “Eles vão longe”.

Estavam certos os otimistas. Desde então a empresa cresceu solidamente, apesar deste período ter sido o mais difícil que a indústria brasileira já enfrentou. Grandes investimentos foram feitos pela empresa na compra dos mais modernos de equipamentos, construção e reforma de prédios e até na construção de uma hidráulica (usina de tratamento de água) particular. O número de funcionários aumentou de pouco mais de 100 para cerca de 500 e a produção mais ainda.

Na época em que os dois jovens empresários assumiram o comando da empresa (juntamente com seu irmão mais velho João Adolfo Oderich que, no entanto, não trabalha na firma em tempo integral: ele é hoje um dos principais administradores da refinaria Alberto Pasqualine, da Petrobrás) a Conservas era uma fábrica pequena e antiquada. Todos a viam como uma empresa em decadência. Mesmo os mais otimistas jamais imaginaram que os novos diretores conseguiriam chegar tão longe. Mas chegaram e uma demonstração concreta disto foi a viagem feita por Marcos Oderich ao Japão há algumas semanas.
Ele foi a Tóquio, a maior e mais moderna cidade do mundo, para participar de uma feira de alimentos na qual expôs os produtos oderich aos consumidores japoneses. Voltou de lá impressionado.

Em primeiro lugar, um ponto a nosso favor: Marcos voltou convencido de que aqui é o paraíso. Segundo ele, no Japão as pessoas, apesar de serem extremamente educadas e cordiais, vivem muito fechadas e sem alegria. Os japoneses estão sempre correndo e olham constantemente para os seus relógios de pulso. Tudo funciona rigorosamente dentro do horário, todos são confiáveis e se pode contar com o cumprimento de qualquer compromisso assumido por eles. Prazos e horários são cumpridos com extremo rigor. Em lugares como as estações de metrô, pode ser notar estas coisas. Tudo é perfeito e limpo. Além das pessoas caminharem velozmente, existem esteiras (tipo escada rolante, só que na horizontal) que as levam em velocidade maior ainda.

Tudo funciona melhor do que aqui, mas nota-se nestes lugares que as pessoas não conversam entre si, não brincam, não riem. Eles são extremamente frios com os estranhos, embora saibam ser, também, muitíssimo cordiais e educados sempre que isto for exigido deles como um dever (nos negócios, por exemplo, ao tratarem com um cliente).

Enfim, os japoneses são extremamente disciplinados e cumprem maravilhosamente os seus deveres e obrigações para com os outros. Exemplo disto, Marcos observou no fato de que muitos japoneses andavam no metrô com uma pequena máscara que lhes cobria o nariz e a boca. Perguntando quanto ao motivo disto, ele soube que estas pessoas estavam gripadas e usavam as máscaras para não contaminar os demais.

Porém, esta dedicação extrema dos indivíduos em favorecer a coletividade, parece tirar dos japoneses uma coisa que nos brasileiros se nota intensamente, que é a alegria no relacionamento com os demais. Algo que tem muito a ver com a felicidade.
A não ser por este detalhe (talvez fundamental) os japoneses são absolutamente admiráveis. Os prédios são fantásticos. Muitos deles tanto para o alto como para o fundo da terra, com três ou quatro andares subterrâneos, pois os terrenos em Tóquio são os mais valorizados do mundo e cada centímetro tem que ser aproveitado ao máximo. Nestes subterrâneos, a iluminação artificial é tão perfeita que são cultivados jardins nos quais crescem até mesmo árvores. Não se vê sujeira alguma e nem as infiltrações de água pelas paredes, tão comuns nos prédios brasileiros.

Os homens, nas ruas, na sua maioria, andam de terno e gravata e as pessoas mostram uma certa igualdade de nível social. Não se vê pobreza e nem exageros de riqueza (palacetes, por exemplo). Os motoristas de táxi usam luvas brancas e uniformes impecáveis. São solícitos e cordiais até ao exagero, mas não aceitam gorjeta. Uma rápida corrida de táxi do hotel à estação do metrô custa o equivalente a Cr$300 mil e se Marcos quisesse ir de táxi até o local da feira, uma corrida de quase uma hora, o custo seria de Cr$ 5 milhões. Tudo é caro, especialmente quando envolve diretamente o trabalho de uma pessoa, pois os profissionais ganham salários muito elevados em comparação aos nossos.
Os prédios são construídos com estruturas de ferro e as paredes são de madeira revestida com gesso, o que lhes dá a aparência de alvenaria.

Os restaurantes fecham às nove horas da noite e os clientes são servidos e comem rapidamente. Eles vão pra lá para comer, não para conversar e descansar como aqui. Os japoneses trabalham muitas horas e, tanto no trabalho como fora dele, não perdem tempo para nada.

Eles estão tão adiante de nós nos negócios que promovem feiras como esta na qual a Oderich participou ao lado de um seleto grupo de dez empresas brasileiras do ramo de alimentação (Sadia, Aurora e Bordon, entre outras). O notável é que eles convidaram as empresas brasileiras, lhes deram o estande na feira, pagaram-lhes a a viagem e hospedagem em ótimo hotel e até elaboraram folhetos e vídeos sobre os produtos e a empresa. Quer dizer: até quando se trata de comprar, eles é que fazem esforço, ao contrário do que acontece no resto do mundo, onde o vendedor é que se empenha para oferecer seu produto. Parece que eles não tem tempo e paciência para esperar pelos lerdos empresários ocidentais.

No seu estande, a Oderich ofereceu principalmente os patês de fígado, presunto e galinha, além do pepino e dos cogumelos. A receptividade do público foi excepcional e é muito provável que brevemente estejam acontecendo boas exportações destes produtos para o rico e grande mercado japonês.

A Oderich já vem de algum tempo vendendo feijoada para os dekaseguis (brasileiros de origem japonesa que vivem no Japão), que sentem saudades da comida brasileira. As exportações representam, no entanto, menos de 5% das suas vendas e são feitas principalmente para o Uruguai, seguido da Bolívia e Paraguai e, em menor volume, da Argentina e Chile. Mesmo que de forma lenta, as exportações da empresa vem aumentando ano a ano.

Ver algo do modo de produzir e negociar dos japoneses foi, para o empresário Marcos Oderich, uma antevisão do futuro. Ele viu nas empresas que as salas são grandes e sem divisórias, com quadros negros e audiovisual destinadas a treinamento do pessoal e reuniões de debates. O planejamento é fundamental, mas principalmente a confiabilidade das pessoas na execução de suas tarefas. Lá não existe a irresponsabilidade. Isto traz grandes vantagens. Tudo é muito bem organizado e funciona perfeitamente porque cada um cumpre rigorosamente com o seu dever.

Um exemplo disto está nas lojas, que não precisam imobilizar capital mantendo estoques de produtos. Eles podem trabalhar com pouca quantidade de um produto pois sabem que no momento em que lhe faltar, basta pedir que pronta e infalivelmente receberá o seu pedido. Este não é um fato de pouca importância, pois os empresários ganham muito se, ao invés de imobilizarem o seu dinheiro mantendo estoques, o usarem em novos negócios.
O uso da tecnologia é intenso e o computador está em toda parte.

Renato Klein113 Posts

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