A família Heck se encontra

Brasão da Família Heck Reprodução/Internet
  • Texto de Felipe Kuhn Braun

No segundo final de semana do ano de 2010, dias nove e dez de janeiro, foram os dias escolhidos para a família Heck realizar seu 16º encontro internacional, em Santo Cristo. Como venho pesquisando esta família há oito anos, gostaria de escrever algumas linhas sobre a interessante história dos Heck. Minha falecida avó paterna era Heck, natural de Bom Princípio. Então, apesar de assinar Kuhn Braun, também sou um Heck.

As primeiras pesquisas históricas sobre nossa família foram feitas pelos padres Edgar e Alfonso Heck. Quando comecei a minha, no ano de 2001, os dois religiosos foram muito prestativos, me entregando na época, cópias de todo o seu material pesquisado. A eles devo meus sinceros agradecimentos e posso afirmar, com total convicção, que todo o vasto material compilado por mim durante todos esses anos, teve como base as pesquisas e como exemplo os esforços do Padre Edgar e do Padre Alfonso para preservar nossa história.

Os Heck que vieram para o Brasil, Johann Nikolaus, sua esposa Anna Maria Wolf e seus oito filhos, são originários de Dickenschied, no Hunsrück. Assim como boa parte dos habitantes dessa bela região ao sudoeste da Alemanha, os Heck habitaram Dickenschied após a guerra dos trinta anos, que teve seu término no ano de 1648. As raízes mais antigas dos Heck remontam ao bisavô do imigrante, Johannes Heck que nasceu em 1615 em Eifel, região do baixo Reno, na divisa com a Bélgica. Vários Heck de Dickenschied e região foram agricultores, cobradores de impostos e professores. Na Alemanha eles não formavam uma família tão numerosa, conforme se verifica avaliando as estatísticas da época. Os invernos eram rigorosos, os recursos escassos e, portanto, as famílias eram menores. Uma em cada três crianças morria antes de completar 5 anos.

O imigrante Heck era católico e casou com uma luterana (algo raro para a época), chamada Anna Maria Wolf. O casamento foi em Dickenschied no ano de 1809.

Anna Maria Wolf era natural de Womrath, um belo lugarejo vizinho a Dickenschied. Na década de 1960 foi escolhido como o vilarejo mais bonito da Alemanha. Estive em Womrath em janeiro de 2008 com Heinrich Augustin, professor e grande conhecedor da história da região, que escreveu um livro contando a história de Womrath. E o livro conta uma longa e rica história: de um antigo vilarejo no caminho dos romanos até se tornar a terra do santo Werner, cultuado como santo, mas nunca canonizado pela igreja. O lugarejo foi a terra de origem de emigrantes, entre os quais os Scherer que foram para os Estados Unidos, onde se tornaram ricos industriais e políticos. No século XX, a localidade foi o lar do pastor Paul Schneider, um dos maiores críticos, opositores ao nazismo; morto na segunda grande guerra. Nesse belo local, rico em histórias pessoais que se mesclam a histórias familiares e de nações, está a raiz da família de Anna Maria Wolf, que remonta ao século XVI, segundo pesquisas genealógicas feitas por Heinrich Augustin. Árvore genealógica que eu trouxe da Alemanha em 2008.

Ao visitar Womrath, o mais incrível para mim era estar em um lugar que é a raiz de milhares de descendentes de alemães no sul do Brasil.

Do Vale do Caí para o mundo

Os Heck vieram para o Brasil no ano de 1827, chegando no Rio Grande do Sul em 16 de dezembro de 1827, e se estabeleceram em São José do Hortêncio.

Em uma terra farta como o sul do Brasil, eles se dedicaram à agricultura, e o casal de imigrantes com seus sete filhos sobreviventes (um deles, Wilhelm, faleceu no navio e teve que ser jogado no mar) teve uma grande descendência.

No início do século XX, já eram mais de 1.500 descendentes. Os sete filhos de Johann Nikolaus Heck e Anna Maria Wolf deram ao casal 56 netos, 330 bisnetos e 1.100 trinetos. Apenas um desses 1.100 trinetos (meu bisavô Jacob Aloísio Heck de Bom Princípio) teve 12 filhos e teria hoje mais de 200 descendentes. O avô do padre Alfonso, João Heck Sobrinho que emigrou para a Argentina casou se duas vezes, teve 22 filhos, 96 netos e mais de 600 descendentes, diretos e indiretos.

Essa é a realidade de centenas de outras famílias alemãs que vieram para o sul do Brasil.

Localidades como São José do Hortêncio, já no começo do século passado, não tinham capacidade de abrigar tantas famílias. Aí começou a migração para outras regiões e vários dos netos do imigrante já não moravam em Hortêncio. Ele tinha netos morando em Bom Principio, Tupandi, Salvador do Sul, Harmonia, Feliz, São Sebastião do Caí, Montenegro, Estrela e Lajeado. Seus bisnetos, naturalmente em número muito maior, migraram para a região da fronteira: Cerro Largo, Santo Cristo, Santa Rosa, para a Argentina (Puerto Rico, na região das Missões Argentinas), Santa Catarina (sobretudo Itapiranga) e Paraná.

Seus trinetos, acompanhando a leva de migrações mais ao norte, transferiram residência para São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Hoje conseguimos encontrar e manter contatos com parentes em dez Estados brasileiros. Começando onde estão às raízes da família, o Rio Grande do Sul, os encontramos também em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão e Amazonas.

Em oito anos, consegui contabilizar cerca de 9 mil nomes de parentes, descendentes de Johann Nikolaus Heck e Anna Maria Wolf.

Outra curiosidade são os sobrenomes e a diversidade cultural nas famílias de descendentes Heck. O que é natural em um país como o nosso, nesse caldeirão étnico e cultural que formou esse belo país, chamado Brasil e abençoado por Deus. Embora de predominância católica, alguns descendentes pertencem a outras religiões devido a seus casamentos ou locais onde residem. Muitos também emigraram para outros países, temos descendentes dos Heck brasileiros morando na Argentina, Paraguai, Estados Unidos, Alemanha, Espanha, Inglaterra e Portugal.

Entre outras nacionalidades e etnias que entraram na família, estão judeus, húngaros, turcos, suecos, italianos, portugueses, espanhóis, índios e africanos.

Também chama atenção o número de religiosos na família que, entre irmãos, padres e freiras, ultrapassam 50 pessoas. E também o número de políticos. Os Heck já tiveram parentes administrando as cidades de Itapiranga, Tupandi, Três Passos, Ijuí, Cerro Largo, entre outras. Entre os tantos políticos, destacam se o ex-deputado e ex-prefeito de Ijuí por três mandatos, Valdir Heck; a ex-prefeita de Três Passos, deputada estadual e presidente do PSDB no Rio Grande do Sul, Zilá Hartmann Breitenbach, que integra o governo de Yeda Crusius no Estado e Selvino Heck, assessor especial do gabinete do ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva.

Johann Nikolaus Heck veio com sua esposa e seus oito filhos para um país na época desconhecido. Para um lugar no meio do mato onde ganhou algumas terras. Através da fé, da honestidade, do trabalho e da perseverança, educou a todos e fixou as raízes da família no sul do Brasil. Ele foi o patriarca de centenas de famílias e milhares de brasileiros espalhados pelos quatro cantos de nosso país e do mundo.

Em oito anos de pesquisas sobre essa família, visitando o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Argentina e Alemanha, em busca de nossas raízes, fui recebido por muitas dessas famílias. Encontros muitas vezes únicos, onde conheci a pluralidade cultural, econômica, étnica e profissional dessa família.

Johann Nikolaus Heck e Anna Maria Wolf talvez não imaginassem que teriam milhares de descendentes de tamanha importância para esse país, assim como muitos de seus conterrâneos que em busca de um futuro melhor para suas famílias, enfrentaram o oceano, as dificuldades, os medos, as tristezas e as angústias e que estejam onde estiver foram verdadeiros heróis e os melhores exemplos para todos nós.

Seguramente Heck e sua esposa estariam muito orgulhosos se pudessem ver seus descendentes hoje e saber que todos os seus esforços em busca de um futuro melhor para sua família, não foram em vão.

 

Renato Klein113 Posts

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A cidade do Caí, em 1940

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