A primeira eleição em São Vendelino

Régis Fritzen começou jovem a atuar na política do município Arquivo/FN

Certo dia, quando abastecia o carro no posto de gasolina de Wolfran Wagner, Jair Baumgratz foi convidado por este a participar de uma reunião pró-emancipação. Como ele havia concluído a faculdade e passou a dispor de um pouco mais de tempo à noite, aceitou o convite. Na reunião, Wolfran pediu a Jair que se manifestasse e ele, pego de surpresa e bastante encabulado, discursou pela primeira vez.

Jair Baumgratz, tem uma importância fundamental na história do município de São Vendelino
Arquivo/Internet

Mas Jair teve pouca participação no movimento emancipacionista. Muito ocupado com o seu trabalho e ainda não totalmente contaminado pelo vírus da política, ele pouco participou da luta pela emancipação.

Passado o período de união em torno da causa emancipacionista, a política voltou a movimentar-se em torno dos partidos. Brevemente ocorreriam as primeiras eleições municipais e era preciso que os partidos apresentassem seus candidatos. O pai de Jair, seu Adelmo Baumgratz, era um antigo líder local do PMDB e resolveu estruturar o partido no novo município. Promoveu, para isto, uma reunião na sua casa. A pedido do pai, Jair convidou alguns jovens para participar da reunião. O empresário João Érico Werner, líder histórico do PMDB em Bom Princípio, compareceu à reunião e, nela, fez uma manifestação inesperada, propondo que Jair assumisse a presidência do partido em São Vendelino.

Embora colhido de surpresa – pois uma participação mais intensa na política não fazia parte dos seus planos – Jair aceitou a missão. Carlos Fritzen, que era então seu funcionário, entrou também na formação do primeiro diretório municipal do PMDB como secretário.
Começou, então, o trabalho político de construção do partido. Parecia uma empreitada com poucas perspectivas de sucesso, pois o PMDB era fraco em São Vendelino. A única liderança forte com que contava o partido era Celestino Schneider, um homem simples mas simpático e prestativo que conhecia todo mundo no interior do município. Jair era muito jovem então. Tinha apenas 25 anos. Por isto, enquanto Celestino procurava captar forças para o partido no interior, Jair buscava adesões entre os jovens. Uma destas conquistas foi o presidente da comissão emancipadora, Leomar Willrich, também bastante jovem (29 anos) e que nunca antes estivera filiado a um partido. Outra foi o amigo Régis Fritzen, que nunca havia se envolvido antes com a política.

Assim o PMDB foi se organizando numa tentativa de juntar forças para enfrentar o PDS que reunia todas as figuras mais destacadas da política vendelinense. Parecia uma luta desigual. Impossível de ser vencida. Tanto que ninguém estava disposto a ser candidato a prefeito pelo PMDB. Celestino Schneider pensava que Jair devia ser o candidato a prefeito.

Mas este, que nunca havia disputado eleição alguma, não se sentia em condições.
Mas, com os problemas jurídicos levantados contra a criação do município, a eleição não ocorreu, em São Vendelino, no ano de 1988. O futuro município continuava pertencendo a Bom Princípio e seus cidadãos tinham, portanto, o direito de votar e de concorrer a cargos no governo principiense.

Celestino Schneider sugeriu que Jair deveria candidatar-se a vereador nas eleições de Bom Princípio. Então se veria se ele era bom de voto e se poderia ou não concorrer, depois, a prefeito de São Vendelino.

E Jair passou no teste. Ele foi o candidato mais votado nas mesas eleitorais de São Vendelino e o segundo mais votado entre todos os vereadores eleitos no município de Bom Princípio.

Logo depois de assumir o cargo de vereador em Bom Princípio, em 1° de janeiro, Jair renunciou, deixando que o suplente Ramiro Flach (conterrâneo seu, da localidade de Piedade) assumisse em seu lugar. Já estava decidido que ele concorreria a prefeito nas eleições municipais de São Vendelino que aconteceriam dentro de três meses e meio.

Para poder dedicar-se à campanha, Jair convidou o funcionário Carlos Fritzen a tornar-se seu sócio na empresa. Carlos assumiu o trabalho na firma, liberando Jair para o trabalho político. Junto com Celestino Schneider, ele visitou cada casa no interior do município, conversando com os eleitores. Foi uma campanha de custo reduzidíssimo, mas que deu excelente resultado.

Jair vence

No dia 16 de abril, os vendelinenses foram às urnas. Como era a única eleição municipal realizada no estado naquele dia (nos outros municípios, as eleições haviam acontecido cinco meses antes), a imprensa da capital deu grande cobertura ao pleito. Dizia-se que aquela era uma eleição solteira.

Quando Jair Baumgratz elegeu-se primeiro prefeito de São Vendelino, seu irmão César (foto) era vice-prefeito do município mãe: Bom Princípio
Arquivo/FN

Dos 707 votos válidos, 406 foram para Jair Baumgratz e 301 para o seu opositor, o doutor Léo Angst. Um resultado que causou grande surpresa na região, pois o doutor Angst era figura de destaque da política regional há vários anos enquanto que Jair era quase que totalmente desconhecido fora do seu município e havia recém despontado para a política.
Repetira-se o mesmo fenômeno ocorrido seis anos antes em Bom Princípio. Naquela ocasião o grande líder emancipacionista de Bom Princípio, Arno Carrard, perdeu a eleição para o pouco conhecido Hilário Junges. E, da mesma forma como havia ocorrido na primeira eleição municipal de Bom Princípio, se temeu que os eleitores haviam cometido um grande erro ao eleger Hilário em lugar de Carrard. Também no caso de São Vendelino muitos imaginaram que confiar o governo municipal ao jovem e inexperiente Jair Baumgratz teria sido uma decisão errada.

Naquele dia, um domingo, a Rádio Gaúcha transmitia um jogo do Grêmio e interrompeu a transmissão para colocar no ar uma conversa telefônica em que o governador Pedro Simon falava com o novo prefeito eleito. Jair, emocionado e ainda desacostumado a enfrentar tais situações, quase não conseguia pronunciar as palavras que o rádio estava levando para grande parte do país. Só conseguia dizer “obrigado, obrigado” em resposta às felicitações e aos desejos de sucesso que lhe eram dirigidos pelo governador. “Será que Jair não estaria tão despreparado para governar quanto para falar no rádio?”, foi uma pergunta que muitos fizeram, naquele momento.

Depois de tantas emoções, Jair teve de afastar-se de São Vendelino para refrescar a cabeça num passeio com a esposa e o filho Matheus, então com quatro meses.

Mas as emoções estavam apenas começando. Num município que teve um nascimento tão tumultuado, a primeira eleição não poderia transcorrer sem alguma contestação judicial. E ela veio.

O irmão de Jair, César Baumgratz, havia se elegido vice-prefeito de Bom Princípio na chapa de José Ledur. José era um homem simples, de pouco estudo e de muito trabalho. E, ao que parece, não se sentiu muito bem sentado na cadeira do prefeito. Quis partir logo para a ação. Ele era do tipo de administrador que gostava de comandar obras, de ficar junto com os operários e até de assumir pessoalmente a operação das máquinas. Por isto, pouco depois de assumir a prefeitura, ele tirou uma licença do cargo, deixando o seu vice-prefeito assumir em seu lugar.

Este fato foi aproveitado pelo PDS de São Vendelino para impugnar a eleição de Jair Baumgratz. A alegação era a de que tendo César assumido o cargo de prefeito poderia ter auxiliado seu irmão Jair na campanha política. Afinal, a área emancipada de São Vendelino pertencia a Bom Princípio e César poderia ter usado o seu poder de prefeito para favorecer o irmão no pleito.

O caso foi parar no Tribunal Regional Eleitoral e lá Jair foi defendido pelo advogado e líder emedebista Arno Carrard. A defesa alegou que César não era o prefeito de fato, já que José Ledur permaneceu no município e era ele quem realmente mandava na prefeitura durante o período da suposta governança de César. Recortes do jornal local (Fato Novo) foram utilizados para mostrar que era Ledur quem dava entrevistas e tomava todas as medidas fundamentais para do governo no período da sua licença.

Jair presenciou ao julgamento e não conseguia entender a linguagem técnica utilizada por juízes e advogados. Só compreendeu que havia ganho a causa quando Arno Carrard lhe fez, com a mão, um sinal de positivo.

Dois dias depois, 1° de junho de 1989, ocorreria a sua posse e só naquele momento ele teve a confirmação de que seria realmente o prefeito. Pode se imaginar a grande festa que seus correligionários fizeram no dia da posse, depois de uma vitória tão difícil.

Renato Klein113 Posts

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