Defesa alega que réu não tinha condições de participar de júri ontem

O júri do fisiculturista acusado pela morte de Débora Michels Rodrigues da Silva foi cancelado ontem, quinta-feira, em Montenegro. A decisão ocorreu após o réu, na véspera, revogar os poderes conferidos à sua advogada, medida que, segundo a Juíza de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Montenegro, Débora de Souza Vissoni, inviabiliza o prosseguimento do julgamento. “A sessão do Plenário do Tribunal do Júri aqui em Montenegro não ocorreu no dia de hoje em função de que o réu, na véspera, antes da meia noite, revogou os poderes da então advogada dele. Com isso, como a Constituição assegura que nenhum réu será processado sem estar devidamente representado nos autos, foi necessário o cancelamento do júri no dia de hoje”, afirmou a magistrada. De acordo com a Juíza, o réu foi conduzido pela Susepe e foi intimado pessoalmente para que em até dez dias, decidisse sobre a indicação de um novo advogado ou, alternativamente, se optaria por ser assistido pela Defensoria Pública. Caso o acusado permaneça em silêncio, será assistido pela Defensoria Pública.
Uma nova data será marcada para a realização do plenário, com todos os procedimentos sendo refeitos, incluindo o sorteio de novos jurados e a intimação de testemunhas. A nova data para o julgamento ainda será definida, aguardando a decisão do réu quanto à sua representação jurídica. O cancelamento decorre do direito constitucional à ampla defesa e à devida representação processual. A expectativa da juíza é de que o júri aconteça em abril. Foi o segundo júri popular adiado em Montenegro, em uma semana, praticamente pelo mesmo motivo. Na última semana um júri com seis réus foi cancelado após um dos advogados de defesa apresentar atestado de saúde.
Familiares, entre pais e irmão de Debby Michels, que aguardavam o julgamento, inclusive empunhando fotos dela e usando roupas pretas, ficaram decepcionados com o cancelamento. A promotora de justiça, Rafaela Hias Moreira Huergo, que iria atuar na acusação junto com a advogada Samanta Dannus, também lamentou transferência. “Estamos desapontados com o rumo que o plenário tomou”, disse. Ela citou que no dia anterior já tinham ocorrido tentativas de adiamento, mas o júri tinha sido mantido pela magistrada. “Frustrou toda a comunidade, mas principalmente a família enlutada. Vamos buscar garantir que o réu continue preso e que o julgamento ocorra o quanto antes para que se possa trazer justiça”, salienta.
De acordo com a advogada Daniela Schneider, na noite anterior o réu teria tentado retirar a própria vida através do uso de medicamentos. “Buscamos relatórios médicos e informamos à Justiça. Ele foi levado para a emergência e teve choque anafilático. Não tinha condições de comparecer ao júri”, alega. “Não estava bem. Disse que não estava preparado para ficar em frente a família dela. Disse que se eu não conseguisse adiar o júri iria procurar outro advogado”, completa, citando que foi destituída a procuração para que atuasse no tribunal e deve ser contratado um novo defensor.

O caso
De acordo com o Ministério Público, o réu cometeu o crime na residência do casal, na localidade de Vendinha, interior de Montenegro, por volta das 3h do dia 26 de janeiro de 2024, de forma premeditada, utilizando esganadura. A morte foi causada por asfixia mecânica, conforme a certidão de óbito.
O motivo seria a inconformidade do réu com o término do relacionamento. Após o homicídio, o acusado colocou o corpo da vítima no seu veículo e o abandonou em frente à casa dos pais de Débora, no bairro Centenário. A prisão preventiva do réu foi decretada em 27 de janeiro de 2024. Débora Michels, de 30 anos, formada em Educação Física, atuava como personal trainer desde 2011 e tinha uma grande paixão por atividade física. A vítima compartilhava seu dia a dia e dicas de treino em redes sociais, conquistando muitos seguidores. Além disso, Débora venceu competições de fisiculturismo, um esporte que também era praticado por seu ex-companheiro. O feminicídio causou grande comoção e repercussão em Montenegro, região e no Estado.
Alexsandro Alves Gunsch, de 48 anos, foi levado novamente para a Penitenciária Estadual de Canoas, onde vai aguardar a nova data do julgamento. Em depoimento à Polícia, o acusado alegou que teria ocorrido uma briga e que o casal teria trocado agressões. Admitiu ter pego a companheira pelo pescoço, levantando-a e tendo a arremessado contra um guarda-roupas. Foi quando ela teria passado mal e disse que a colocou no carro para levar ao hospital, mas no caminho percebeu que a companheira já estava sem vida e devido ao desespero decidiu deixar o corpo em frente à casa dos pais dela. “A defesa segue com a mesma linha defendida durante toda a instrução processual, que na realidade dos fatos houve uma agressão motivada pelo calor da discussão e que sem intenção acarretou o óbito da vítima”, declarou a advogada do réu, que momentos antes do júri foi destituída por ele e impedida de atuar no tribunal.
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