Vídeos da vereadora Camila: Ministério Público pede investigação da Polícia Federal e PDT entra com pedido de impeachment
Novos desdobramentos estão tendo após a grande repercussão dos vídeos gravados no gabinete da vereadora Camila Carolina de Oliveira (Republicanos) na Câmara Municipal de Montenegro.
A promotora de justiça Daniela Tavares da Silva Tobaldini, que responde também pela Promotoria Eleitoral, diz que encaminhou as medidas cabíveis após receber as denúncias. “Em se tratando de eleições em nível nacional, a propaganda, em tese, irregular, já foi encaminhada ao Procurador Regional Eleitoral, para que adote as medidas que lhe cabem”, declarou à promotora. “E requisitamos a apuração de possível crime eleitoral à Polícia Federal, uma vez que possivelmente tenha ocorrido uso indevido de bem publico nas eleições”, afirma. “Também determinei o encaminhamento de cópias do expediente para o Promotor da 2ª Promotoria de Justiça, em virtude de possível infração aos princípios da Administração Pública”, completa a promotora eleitoral Daniela Tobaldini.
PDT pede cassação
Ainda ontem, quarta-feira, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Montenegro protocolou um requerimento na Câmara pedindo a instauração de processo de impeachment contra a vereadora Camila Oliveira, visando à cassação de seu mandato por entender que houve falta de ética e quebra de decora parlamentar.
A executiva do partido, juntamente com a Ação da Mulher Trabalhista (AMT), esteve reunida ontem. No entender dos pedetistas, além de violar a legislação eleitoral, pois continha fotos e adesivos de seu candidato à Presidência da República, também agride as mulheres com palavras de baixo calão por pensarem diferente à sua ideologia política. Conforme a nota do PDT, o conteúdo publicado nas redes sociais, além de expor a imagem de menores, promove ataques às mulheres, o quê estaria caracterizando quebra de decoro parlamentar. Por isso o partido resolveu apresentar ação de impeachment contra a vereadora Camila, o que pode ocasionar na perda do mandato de vereadora.
A solicitação do PDT está sendo analisada pelo jurídico da Câmara. No caso da denúncia ser aceita, tem que formar uma comissão que vai realizar os trabalhos, assim como já ocorreu nos casos de impeachments de prefeitos.
Representação
Na manhã de segunda-feira, dia 17, representantes de três partidos políticos (MDB, PSB e PTB), que possuem representação no legislativo municipal de Montenegro, apresentaram denúncia contra a vereadora Camila. Na representação, protocolada na Câmara, os denunciantes consideram que houve quebra de decoro parlamentar por parte da vereadora, a qual gravou os vídeos em seu gabinete na última sexta-feira, dia 14. Segundo a denúncia, foi utilizada a estrutura da casa legislativa para a filmagem de propaganda política eleitoral, contendo músicas com expressões de ódio e preconceito. Nos vídeos, postados no facebook da vereadora e que circulam nas redes sociais, aparecem imagens do atual presidente Jair Bolsonaro, do qual ela é apoiadora, além da participação de duas jovens, que seriam menores de idade, cantando com a parlamentar. Na representação é solicitado que a Câmara abra processo disciplinar.
Num dos vídeos, as três cantam e dançam ao som de um funk, cuja letra diz: “As mina de direita são as top mais bela, enquanto as de esquerda tem mais pelo que cadela”. Já em outro vídeo cantam: “Ei, petista, pensou que ia escapar? Se liga, vagabundo, tu vai ter que trabalhar”.
Ainda na segunda-feira a vereadora retirou de seu perfil no facebook os vídeos que tinha gravado na Câmara. Mas eles continuam circulando nas redes sociais, com muita repercussão.
Nota do Republicanos
O Republicanos, partido da vereadora e pelo qual ela concorreu a deputada estadual neste ano, também emitiu nota pública através do seu diretório estadual, assinada pelo presidente da sigla, deputado federal Carlos Gomes, e pela Secretária estadual do Mulheres Republicanas, Beth Colombo.
O presidente estadual do Republicanos manifestou repúdio ao conteúdo dos vídeos publicados pela vereadora e informa que foi solicitada a avaliação da Comissão de Ética do partido, que fará a devida apuração e apreciação da conduta da parlamentar. “Reiteramos que o Republicanos defende o respeito à pluralidade como pilar da democracia. Não compactuamos com manifestações que segreguem, ofendam ou discriminem pensamentos políticos divergentes, sobretudo aquelas que rebaixem a condição feminina”, descreve a nota, concluindo que aguarda o parecer da Comissão de Ética do Poder Legislativo montenegrino, a quem deposita respeito e confiança.
Camila, de 44 anos, foi eleita vereadora pela primeira vez em 2020 com 647 votos e neste ano concorreu à deputada estadual, mas não conseguiu se eleger ao fazer 6.819 votos.
Repercussão
Os dois vídeos gravados dentro da Câmara de Montenegro e divulgados nas redes sociais da vereadora Camila estão causando repercussão, inclusive na grande imprensa. Reportagens foram destaque em emissoras de televisão e rádio, além de jornais e portais de notícias.
O presidente da Câmara, vereador Talis Ferreira (PP), declarou que a representação foi encaminhada para o departamento jurídico do legislativo e posteriormente para a Comissão de Ética. “Todas as ações feitas dentro dos gabinetes são de responsabilidade dos vereadores”, declarou Talis. “Não compactuo com algumas ações, como essa que ela vez nos vídeos, mas é de responsabilidade dela”, completa. Talis disse que, logo que recebeu a representação, entrou em contato com a vereadora Camila, informando da denúncia e ela recebeu uma cópia. “Estamos fazendo todo o trâmite legal”, declara.
A Comissão de Ética Parlamentar é presidida pelo vereador Felipe Kinn (MDB), tendo a vereadora Ana Paula Machado (PTB) como relatora, mais como integrantes Valdeci Alves de Castro (Republicanos), Sérgio Souza (PSB) e Ari Müller (PP). “Vamos atuar da forma mais transparente possível”, declarou Felipe Kinn.
O Conselho de Ética tem dez dias úteis para emitir um parecer preliminar sobre o caso. Caso a representação seja aceita, a comissão terá 45 dias para ouvir a acusada e demais pessoas, além de análise do material. Depois é emitido o relatório, que será apreciado pelos demais integrantes do Conselho e ser votado em plenário. Entre as medidas disciplinares que podem ser tomadas estão censura, suspensão por até 30 dias e perda do mandato.
Camila diz que está tranqüila e trabalhando
A vereadora Camila Carolina de Oliveira (Republicanos) participou no início da tarde de onem, quarta-feira, dia 19, da abertura da ExpoACI, no centro de Montenegro. Enquanto estava visitando a Feira da Agricultura Familiar, um dos espaços do evento que vai até o próximo sábado nas dependências do Colégio Sinodal Progresso, a reportagem buscou novo contato com a vereadora, que nas respostas por mensagens alegou que só iria se manifestar no momento oportuno.
Camila disse que preferia não dar entrevista. Declarou apenas que não esperava tamanha repercussão quanto aos vídeos gravados na Câmara de Vereadores e que circulam nas redes sociais. Afirmou que segue trabalhando normalmente, inclusive confirmando que vai participar hoje, quinta-feira, da sessão ordinária da Câmara. Não informou se durante a sessão irá se pronunciar na tribuna, já tendo conhecimento que o Partido dos Trabalhadores está organizando um ato de repúdio, na frente da Câmara, amanhã, às 18h. Além disso, foi lançado abaixo-assinado pedindo a sua cassação, além de várias notas de repúdio e protestos nas redes sociais. Camila se diz tranquila e que tem recebido apoios de correligionários.
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