Pescarias e bolinhos de batata não podiam faltar nos encontros familiares de Dom Cláudio

Dom Cláudio Hummes costumava celebrar missas durante suas visitas a Salvador do Sul (Crédito: Cleo Meurer/Arquivo/FN)

Embora a forte atuação na comunidade católica brasileira e mundial, a ponto de ser considerado por especialistas em assuntos relacionados ao Vaticano, sobretudo no conclave de 2005, um forte candidato a papa, Dom Cláudio Hummes não abria mão de participar dos encontros anuais de sua família. A eleição do sucessor de João Paulo II, há 17 anos, aliás, causou uma movimentação sem precedentes na região de jornalistas de alguns dos mais importantes veículos de comunicação do mundo, que buscavam informações sobre a vida do religioso nascido na Batinga, em Brochier, na época pertencente a Montenegro, mas que já aos três meses de vida passou a residir em Linha Comprida, no interior salvadorense.

Nos momentos de lazer, em Salvador do Sul, o cardeal gostava de se ocupar com pescarias e também de saborear pratos típicos, especialmente, lentilha com bolinhos de batata. A última vez que o religioso, falecido nesta segunda-feira, dia 4, visitou a região foi em novembro de 2019. Durante o ápice da pandemia de Covid-19, o cardeal, já com problemas de saúde, evitou participar de grandes encontros. Eventualmente, nos últimos meses, recebeu visitas de seus irmãos e de sobrinhos em São Paulo, cidade da qual era arcebispo emérito. Com os demais familiares, os contatos aconteciam com frequência por meio de videochamadas.

Em 1998, Hummes recebeu o título de Cidadão Salvadorense (Crédito: Arquivo do Município)

“Ele pedia que ficássemos em oração para que ele tivesse uma boa hora, uma boa morte. Pediu para morrer em paz, em sua casa, em seu quarto, e foi atendido pelos médicos”, relata a comerciante salvadorense Mariane Hummes, sobrinha do cardeal Hummes, relatando que o câncer que acabou vitimando o tio já havia se manifestado em outras ocasiões e chegou a ser controlado, com o quadro se agravando quando a doença se espalhou pelos pulmões e fígado. “Ele estava se preparando para a morte e conseguiu passar seus trabalhos, especialmente os relacionados à Amazônia, para outros padres, para que continuem o legado dele”, acrescenta.

A atuação junto às comunidades indígenas vinha proporcionando muita alegria ao religioso. Ele também se notabilizou por uma trajetória em defesa dos pobres e, mais recentemente, pela grande proximidade do papa Francisco, tendo inclusive inspirado o recém eleito cardeal Jorge Mario Bergoglio a escolher esse nome. Quando do anúncio do sucessor de Bento XVI, Hummes ocupou posição de destaque a partir de um espontâneo convite do religioso argentino.

Cardeal Hummes, ao centro, participou da inauguração dos sinos da Igreja Matriz Três Santos Mártires das Missões (Crédito: Cleo Meurer/Arquivo/FN)

Nas passagens por Salvador do Sul, onde costumava ser hospedado pelos irmãos, Dom Cláudio Hummes tinha também entre as atividades prediletas caminhadas pela cidade para respirar seu ar “muito mais puro” que o da capital paulista, além de conversas descontraídas em rodas de chimarrão. “Sempre foi pra nós muito próximo. Muito irmão, muito tio. Ele tinha um carinho enorme por toda a família, mesmo ela sendo muito grande. Temos excelentes memórias da convivência com ele. Somos muito gratos a Deus por termos vivido no tempo dele”, conclui Mariane.

Os atos fúnebres de Dom Cláudio Hummes acontecerão na Catedral de São Paulo. Nesta quarta-feira, dia 6, às 18h, na Igreja Matriz Três Santos Mártires das Missões, de Salvador do Sul, será realizada missa em sua memória com celebração pelo bispo Dom Carlos Rômulo.

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