O lixo da preguiça

Oscar Bessi

Nesta quinta-feira (02/10) pela manhã, tive de um bate-papo maravilhoso com crianças da Escola Cinco de Maio, em Montenegro. Eles haviam lido meu livro “Um caminho no meio das pedras”. Após me empolgar com o entusiasmo da garotada, fruto do trabalho persistente e instigante de professores fantásticos e apaixonados pela construção da cidadania, e ouvir frases como “eu não gostava de ler, mas depois do teu livro, adoro!”, saí de lá contagiado por tamanho alto astral. Foram tantos abraços sinceros e perguntas inteligentes que pensei: o mundo tem jeito! Precisamos apenas ter mais fé na humanidade. Essa gurizada me provou que a maioria ser do bem é muito possível.

Pois foi dobrar a esquina, a pé, na calçada, que o primeiro gesto de um adulto pareceu querer me contrariar nesses pensamentos positivos. Uma garrafa plástica vazia voou de um carro estacionado e rodopiou até parar na sarjeta. Foi se juntar a tantas outras sujeiras arremessadas por outras pessoas – algumas, como um pacote de salgadinhos, talvez até pela mesma. Dentro do carro, o autor do gesto, tamborilando ao volante, soltou um arroto sonoro. E percebi que ele já tinha outra garrafa plástica de refrigerante na mão. Que obviamente descartaria do mesmo jeito displicente.

Enquanto aguardava minha carona para voltar pra casa, abri o Fato Novo no celular, como é de meu costume, para ler as notícias da região. Dei de cara com o prefeito de Capela fazendo um apelo à população para que não descarte lixo de forma irregular. E fazia um alerta para o fato de tal atitude se configurar crime, para além das consequências lógicas e horríveis à saúde, ao meio ambiente e á estética da paisagem. Ele está fazendo um trabalho, com suas equipes, para tentar conscientizar as pessoas.

É incrível que atitudes, como a do sujeito que narrei acima, sejam tão comuns. Quem gosta de viver no meio do lixo? Até acredito que existam pessoas com complexo de Cascão, e odeiem limpeza, mas sou capaz de apostar que a grande maioria não gosta. E suja as ruas mesmo assim. Suja estradas, entope bueiros, arremessa seu lixo em terrenos baldios, promove descartes irregulares de pequenas ou grandes proporções. E ainda reclama dos poderes públicos. Eu queria saber se o porcalhão preguiçoso daquele carro joga o lixo assim quando está na sala da casa dele, ou no quarto. Duvido. Mas a rua? Ah, a rua não se está nem aí. E é justamente nas ruas que começam os problemas que afetam as casas e as vidas de todos. Vide o que acontece nos alagamentos provocados por chuvas fortes em áreas urbanas. E até mesmo nas enchentes.

É terrível ter certeza de que todos sabem muito bem disso, mas por pura preguiça, agem da forma mais “fácil” para si. Depois não adianta reclamar de boca cheia que o Congresso Nacional está cheio de pilantras querendo leis mais frouxas para poderem meter a mão no bolso do povo à vontade e ainda blindados de qualquer punição. Eles são o retrato do que somos. A corrupção começa nos pequenos gestos de cada indivíduo. E o lixo da preguiça é só mais uma faceta desta falta de ética tão nossa de cada dia.

0 Comentários

Deixe um Comentário

dezenove + dezenove =

Login

Welcome! Login in to your account

Remember me Lost your password?

Lost Password