Caminhada pede justiça no caso do rapaz que morreu em abordagem
No final da tarde de ontem, terça-feira, dia 12, amigos e familiares do jovem Marcelo Junior dos Santos Teixeira, o “Marcelinho”, de 18 anos, participaram de uma manifestação pacífica no centro de Montenegro. Após concentração próxima ao Supermercado Mombach do centro, cerca de cem pessoas, muitas delas segurando cartazes e gritando por justiça, desceram em caminhada até a Praça Rui Barbosa.
Inicialmente a manifestação, convocada através das redes sociais, estava marcada para ocorrer em frente à Brigada Militar. O comandante regional da BM no Vale do Caí, Márcio Luz, inclusive informou à imprensa que convidaria familiares de Marcelo para receber as demandas deles e passar o que está sendo feito pela corporação, que abriu um inquérito policial militar para apurar os fatos. Entretanto, com a mudança do local da manifestação, o encontro acabou não ocorrendo. Para o comandante regional a manifestação é legítima, entendendo a consternação dos familiares e amigos. Ele explicou que a Brigada está realizando diligências, tomando depoimentos e fazendo levantamentos, justamente para que seja realizada a justiça. A Polícia Civil também investiga o caso, já que é a responsável pelo processo que será remetido para a Justiça.
Tiros em barreira policial
Marcelinho foi sepultado na manhã da última segunda-feira. Conforme foi apurado pela Brigada e Polícia, no início da madrugada do último domingo ele estava na carona de uma moto quando iniciou um acompanhamento da Brigada desde o centro da cidade, onde o condutor teria passado com sinal fechado e não tinha carteira de habilitação. Após perseguição pelo centro, bairro Rui Barbosa e RSC 287, o desfecho trágico ocorreu no bairro Santo Antônio, altura da Rua Waldemar Pedro Steffen, perto da Esquina da Sorte, quando a dupla teria furado uma barreira policial.
O comando do 5º BPM alega que o caroneiro teria feito menção de colocar a mão na cintura, o que levantou a suspeita de que estivesse armado, e a moto foi jogada na direção de uma soldado, a qual fez um disparo, justificando que foi em sua defesa, sendo que o tiro acabou alvejando o caroneiro. “Jogou a moto para cima de uma soldado. Um colega efetuou um disparo para o chão. A soldado atirou para se defender”, diz o comandante interino do 5º BPM, major Hélio Schauren, que ouviu a versão dos policiais.
Marcelo foi socorrido pelos próprios PMs e levado ao Hospital Montenegro, mas não resistiu e veio a falecer. Ele era morador do bairro Santo Antônio e a família tem comércio perto do local da abordagem. Já o condutor da moto foi preso em seguida, com as acusações tráfico de drogas, tentativa de homicídio e direção perigosa. Segundo a Brigada, foi encontrada uma sacola com 39 pedras de crack, 130 gramas de maconha e balança de precisão. Não foram encontradas armas com eles.
Mesmo após os disparos, o motociclista seguiu em fuga por cerca de três quilômetros, até próximo da pedreira de Alfama. O caroneiro ferido acabou caindo. A soldado não sofreu lesões. A Brigada alega que em vários momentos solicitou que a moto parasse, inclusive utilizando alerta de sirene, mas o condutor não obedeceu, chegando inclusive a trafegar na contramão e colocando demais usuários em risco.
A Polícia Civil aguarda os laudos da perícia, balística e da necropsia do IML. O delegado Marcos Eduardo Pepe, que estava de plantão na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), diz que nenhum dos rapazes, ambos de 18 anos, tinham antecedentes criminais. Na Delegacia, o condutor da moto preferiu não falar durante o depoimento, alegando que só iria se manifestar na Justiça. Segundo o delegado, o rapaz chegou a dizer informalmente que estava com medo e por isso não teria parado. Um laudo do boletim médico aponta que o ferimento no caroneiro seria na região lombar, mas só o resultado da necropsia para definir oficialmente onde a vítima foi atingida. “O laudo ainda não está pronto”, ressalta o delegado Pepe. O motociclista, após recorrer na Justiça, ganhou o direito de responder ao processo em liberdade.
Vizinho diz que viu
Um morador próximo do local da abordagem, André Assis, gravou um vídeo nas redes socias, dizendo que estava atrás da viatura quando ocorreram os disparos. Diz que policial saiu da viatura e disparou. Nega que moto teria sido jogada na direção da policial. “Tem que falar a verdade”, diz, indignado.
Parentes dizem que Marcelo saiu de casa para comprar um refrigerante porque estavam preparando uma janta. Destacam que o rapaz era trabalhador e nunca esteve envolvido com qualquer tipo de crime, nem usou ou vendeu drogas. Alegam que não tinham mochila na moto, mas sim sacola com refrigerante dentro. E que teria sido alvejado pelas costas. Vídeos circulam pelas redes sociais. O fato tem gerado muitos comentários e grande repercussão, já que a família de Marcelo é bastante conhecida e estimada.
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