De braços dados, casal de cegos luta por mais acessibilidade
O presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Montenegro, Valdair da Rosa Silva, de 55 anos, e a estudante de jornalismo Letícia Severo da Rosa, de 41 anos, namoram faz cerca de 7 anos. Os dois são cegos e se conheceram através das redes sociais, iniciando os contatos pelo facebook. Ambos têm computadores e celulares com aplicativos de leitura de tela, o que possibilita a conversa. E assim começaram a namorar.
Valdair, que também preside a Associação das Pessoas com Deficiência Visual, é natural de Bom Retiro do Sul. Está em Montenegro desde 1982, quando veio trabalhar no Polo Petroquímico. E foi num acidente de trabalho, numa queda na construção civil, onde atuava como mestre de obra, que perdeu a visão quando tinha 42 anos, devido a um descolamento de retina. Já Letícia, que é de Porto Alegre e estuda na Universidade Federal de Santa Maria, tem deficiência visual desde o nascimento, devido a um acidente genético de glaucoma e catarata. Ela chegou a ter uma visão parcial até os 9 anos de idade, mas que foi perdendo aos poucos.
Os dois têm filhos de relacionamentos anteriores. Valdair tem três filhos, de 14, 19 e 24 anos, e Letícia um filho de 21 anos. Agora estão juntos não só no relacionamento, mas também na luta pela acessibilidade. “Ainda tem muito que evoluir”, dizem, sobre os desafios dos deficientes físicos. E a maior dificuldade, segundo destacaram, em entrevista na Rádio América, é a compreensão das pessoas. “Mas vem melhorando”, comemora Letícia. Os dois já passaram por momentos inusitados. Valdair lembra de situações em que pede ajuda, e pessoas se afastam achando que é dinheiro, mas sua solicitação era para atravessar a rua. Lembrou ainda quando lhe convidaram para dirigir um carro. “Foi num campo de futebol”, recorda, garantindo que não saiu do campo. Aposentado, agora está fazendo faculdade de Serviço Social, além de trabalhos voluntários. Já Letícia, além do curso de Jornalismo, trabalhou no Sesi e agora no Sesc. E ela também é craque no esporte, como jogadora de goalball. É atleta do esporte, que é modalidade paralímpica. Joga em Porto Alegre e já disputou até Campeonato Brasileiro.
Valdair e Letícia chamam a atenção quando andam pela rua, de braços dados, cada um com bastão guia, enfrentando todos os obstáculos causados pela falta de acessibilidade. Quando questionados sobre casamento, os dois sorriem. “A acessibilidade é um processo em evolução”, diz Valdair, mudando de assunto. “Mas ainda falta conhecimento, empatia. Ficam olhando, mas não oferecem ajuda”, completa, como na travessia de uma rua. “Melhorou muita coisa. Principalmente as crianças estão recebendo informações mais cedo e levam para seus pais”, afirma Letícia.
0 Comentários