Hilário Junges tornou Tupandi um dos municípios de maior desenvolvimento no país
A quarta e última parte das postagens do blog Histórias do Vale do Caí, de autoria do jornalista Renato Klein, destaca os governos de Hilário Junges em Tupandi e a sua grande contribuição para tornar a pacata localidade como um dos municípios de maior desenvolvimento no país.
O Fato Novo reedita as postagens em homenagem ao grande líder que faleceu ontem, segunda-feira, dia 7 de março, aos 77 anos. A despedida aconteceu nesta terça-feira, com velório no Ginásio Poliesportivo Júlio Redecker, cortejo com caixão sobre o caminhão dos Bombeiros de Bom Princípio, missa de corpo presente e sepultamento.
Em quatro partes pode se conhecer um pouco da história do grande líder, que além de agricultor, foi eleito vereador em Montenegro em 1976, primeiro prefeito de Bom Princípio em 1982 e agora estava no quarto mandato na Prefeitura de Tupandi.
O grande realizador 4
Esta primeira administração municipal, considerando-se a terrível situação que Tupandi enfrentou na sua largada, já foi muito boa. E, se Hilário continuasse no mesmo caminho poderia conduzir o município a um progresso bastante notável. Mas ele não estava satisfeito. Ele tem sempre em mente um princípio básico que norteia a sua estratégia de administrador. É um princípio simples, mas que poucos administradores brasileiros seguem. Podemos resumi-lo na ideia de que, para fazer uma boa administração municipal, que ofereça vantagens para o povo, é preciso primeiro garantir a geração de recursos que depois poderão ser gastos na realização de obras e prestação de serviços à população.
Um tanto decepcionado com o aumento de receita municipal proporcionado pelas indústrias que conseguiu atrair no seu primeiro governo, Hilário foi arquitetando uma outra estratégia. Ele percebeu que a produção agropecuária tem um peso maior do que a produção industrial no cálculo que o governo utiliza para determinar qual a parcela que cabe a cada município na repartição do bolo arrecadado com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Ele sabia, também, que este cálculo é feito levando-se em conta apenas a produção comercializada legalmente, com emissão de nota fiscal.
Isto era um problema para Tupandi e para a grande maioria dos municípios, pois os agricultores geralmente deixavam de emitir notas fiscais de grande parte daquilo que produziam e vendiam.
Hilário percebeu, então, que a grande oportunidade para o município estaria em estimular a implantação de aviários e pocilgas que vendessem a sua produção para grandes empresas, como a Frangosul (hoje JBS) e Avipal. Estas empresas trabalham apenas de forma legal, exigindo dos seus fornecedores a devida emissão de notas fiscais. Assim, tudo que os criadores de aves e de suínos produzissem para estas empresas seria levado em conta no cálculo do retorno de ICMS. E, como o produto agropecuário tem peso maior que o industrial neste cálculo, alguns aviários representariam maior retorno de impostos para o município do que uma indústria de porte médio. E seria muito mais fácil para a prefeitura incentivar a implantação de aviários do que a atração de indústrias. Através de leituras, conversas e até mesmo de programas de TV, como o Globo Rural, ele percebeu que a produção de aves e suínos em regime de integração com grandes empresas seria uma excelente oportunidade de alavancar o desenvolvimento do município
Logo depois de eleito, no final de 1992, Hilário fez uma viagem de dez dias pelo oeste de Santa Catarina e do Paraná. Foi lá conhecer o regime de produção integrada que vigorava com grande sucesso envolvendo empresas como a Sadia e a Perdigão e os agricultores daquela região. Voltou entusiasmado e cheio de idéias quanto ao modo de implantar um novo programa de desenvolvimento para o município baseado neste sistema.
Nos primeiros meses do seu novo governo, Hilário lançou um programa para o qual foram convidados todos os produtores rurais de Tupandi. Todos que quisessem poderiam construir um aviário ou uma pocilga (criadouro de suínos) na sua propriedade, com ajuda da prefeitura. A prefeitura forneceria, a qualquer um que se interessasse em participar, 12 mil telhas e a terraplenagem do terreno. Conseguiu que as empresas interessadas na compra da produção (Frangosul e Avipal) oferecessem financiamento para que estes produtores pudessem construir os aviários e comprar os equipamentos necessários. Desta forma, em apenas dois anos foram implantados 198 aviários e pocilgas em Tupandi. Um número assombroso, considerando-se que o município tem apenas 3.000 habitantes, ou seja, cerca de 600 famílias e apenas uma parte delas vivendo no meio rural. Estas famílias, na sua grande maioria eram pobres. Mas, na época, havia menos exigência quanto às condições de um aviário e eles podiam ser construídos com custos relativamente baixos.
Mesmo assim, só mesmo com o forte apoio da prefeitura e o entusiasmo de Hilário foi possível convencer tantos agricultores humildes e precavidos a fazer um investimento que, devido às suas modestas condições econômicas, era audacioso. Eles acreditaram e se deram bem. Nenhum destes produtores teve problemas com o financiamento e hoje suas famílias vivem num padrão econômico e social bem superior. E o município teve um enorme crescimento na sua arrecadação de ICMS, não só da agricultura, como de grandes indústrias como a Móveis Kappesberg, entre outras, além do comércio se desenvolver. Com os recursos, a Prefeitura não só teve condições de dar mais apoio aos agricultores, como melhorou a infraestrutura, com ruas e estradas asfaltadas, melhorias na saúde, educação e segurança. Hoje Tupandi, mesmo pequeno em população, é um dos municípios com maior arrecadação de ICMS na região, só ficando atrás de Montenegro e São Sebastião do Caí, que são muitos maiores em número de habitantes.
Na primeira eleição em Tupandi, em 1988, a esposa de Hilário, Cecília Junges, foi a vencedora, mas em 1990 foi realizado novo pleito, vencido por Linus Pedro Schaedler. Hilário também participou do governo. Depois o próprio Hilário foi prefeito entre 1993-1996, 2001-2004 e 2005-2008. Na eleição de 2020 Hilário venceu por apenas 12 votos de diferença (0,32%), mas governou por poucos meses. No ano passado foi submetido a duas cirurgias, de próstata e na aorta, não resistindo e vindo a falecer. Desde o seu afastamento o vice Bruno Junges vinha atuando como prefeito em exercício e agora seguirá dando sequência ao trabalho no comando de Tupandi.
0 Comentários