Hospital Sagrada Família contesta ocupação de 146% em leitos covid e informa taxa de 95%

Causou grande repercussão nas redes sociais a notícia postada no site do Fato Novo de que o Hospital Sagrada Família estava com ocupação de 146,2% nos leitos covid, destinados para pacientes de casos confirmados e suspeitos de coronavírus. Os números são da tarde da última segunda-feira, dia 8, informando que todos os 13 leitos de covid-19 fora de UTI adulto estavam ocupados, além de mais seis leitos clínicos, totalizando 19. Por isso teria uma taxa de ocupação tão alta.

Taxa de ocupação de 146,6% foi divulgada em site do Governo do Estado
Crédito: covid.saude.rs.gov.br

A divulgação dos números do Monitoramento COVID-19, quanto às internações, é baseada nas informações fornecidas pelos próprios hospitais de todo o Estado, e ocorre através do site covid.saude.rs.gov.br. E são públicas, podendo ser acessadas por qualquer pessoa.

O prefeito Júlio Campani entrou em contato com a reportagem do jornal, na terça-feira, alegando que a direção do hospital estava contestando as informações que constavam na reportagem e que a divulgação estava causando pânico na comunidade. Foi mostrada ao prefeito a divulgação do site do Governo do Estado, comprovando a veracidade das informações. Matérias semelhantes, divulgando taxas de ocupação, foram feitas dos hospitais de Montenegro, que também enfrentam a superlotação de leitos destinados a pacientes com Covid-19.

Antes de postar a matéria, a reportagem tentou contato com a direção do hospital, por diversas vezes, ainda na segunda-feira, mas não obteve retorno. Não foi atendido no celular e nem por mensagem de whatsApp. Na ligação para o hospital, pediram para telefonar outro dia. Ontem, após o contato do prefeito, a diretora do hospital, Maitê Bohn, retornou uma mensagem apenas discordando dos números, dizendo que não procede. E que iria fazer contato com a Coordenadoria Regional de Saúde. Questionou de onde tinham sido tirados os números, sendo informada que do site da Secretaria Estadual da Saúde, sendo passado a ela o link. A reportagem do jornal voltou a pedir informações e esclarecimentos, por mensagem e telefonema, mas a diretora alegou que não poderia atender porque estava em reunião com o prefeito. Após, enviou mensagem informando que os números estavam errados no site da Secretaria Estadual de saúde e que já tinha solicitado a correção. E que a taxa atual de ocupação da unidade clínica covid é de 88% dos leitos SUS clínicos. E que, somando leitos SUS e convênios, estaria em 95%.

A reportagem também fez contato com a coordenadora da 1ª Coordenadoria Regional de Saúde do Estado, Ane Beatriz Silva Antal. Ela coordena 66 municípios, que totalizam uma população de mais de 4 milhões de habitantes. Foi ela quem na segunda-feira repassou os números da situação do hospital caiense. Ontem de tarde, no mesmo site, a taxa de ocupação tinha baixado para 115,4%. A coordenadora ressaltou que os números são públicos e se colocou à disposição para qualquer orientação ou esclarecimento para o hospital.

Sem condições de reabrir a UTI Covid

O Hospital Sagrada Família chegou a inaugurar uma UTI Covid, com cinco leitos, em junho do ano passado, em live transmitida pela internet com a participação do próprio governador Eduardo Leite. Mas depois, com a queda nos casos, os equipamentos da UTI teriam sido devolvidos, já que eram alugados, e a unidade foi fechada. Agora, na pior situação da pandemia, faltam leitos de UTI em vários hospitais do Estado. No Vale do Caí, o Hospital Montenegro está com ocupação de 140% em sua UTI e o Hospital Unimed com 100%. São os dois únicos hospitais com UTIs na região.

No último final de semana dois pacientes do Caí – um homem de 69 anos e uma mulher de 46 anos, que estavam com coronavírus, vieram a falecer. Ambos tinham outras comorbidades e estavam internados na UTI do Hospital Montenegro. Em boletim de ontem, terça-feira, o Caí somava 1.915 casos confirmados desde o início da pandemia, dos quais 1.679 recuperados, 214 em tratamento e ocorreram 22 mortes da pacientes diagnosticados com coronavírus.

Em recente reunião realizada em Montenegro, com a participação de prefeitos e secretários municipais de saúde da região, foi tratado sobre a mobilização pela reabertura dos leitos de UTI Covid do hospital do Caí. O prefeito Júlio Campani disse que, conforme relato da última sexta-feira, dos cinco leitos de semi-UTI do hospital do Caí, apenas um estava ocupado. E todos os demais leitos normais estavam ocupados. Já a secretária municipal de saúde do Caí, Neiva Santos, diz que quem define a situação, sobre reabertura da UTI Covid, é o próprio Hospital Sagrada Família. “O que nos foi informado é que a direção do hospital não consegue contratar os profissionais para a reabertura dos cinco leitos de UTI”, diz Neiva.

Direção do hospital do Caí alega que falta de profissionais impede reabertura da UTI Covid
– Crédito: Maicon Hinrichsen/ Palácio Piratini

A reportagem também fez contato com a coordenadora regional de saúde sobre os leitos de UTI Covid. Ela diz que o Hospital Sagrada Família, do Caí, tinha 6 leitos de UTI Covid, mas os equipamentos alugados foram devolvidos. Cita que não foi renovada a habilitação por parte do Ministério da Saúde. Sobre a reabertura, afirma que depende de interesse do hospital e/ou do município. “Mais do hospital do que da gestão municipal, uma vez que ele é privado filantrópico”, declara. A coordenadora não sabe os motivos, mas cita que podem ser devido às dificuldades com pessoal, custos e outros. “Precisa verificar com o hospital os motivos”, completa. Ane Antal diz que hoje os leitos do Hospital Sagrada Família são clínicos covid, ou seja, não são de unidade de terapia intensiva (UTI), que atende os casos mais graves. E aí depende de vaga em outros hospitais, o quê está muito difícil.

A diretora do hospital caiense considera inviável a reabertura da UTI Covid devido à falta de profissionais. “Seria irresponsabilidade nossa assumir um compromisso de vidas sem conseguir manter escala”, alega, entendendo que comprometeria o atendimento. Por isso o hospital montou quatro leitos de semi-UTI para pacientes que venham a piorar, utilizando respiradores e demais equipamentos, aproveitando a equipe qualificada que já trabalhava na antiga UTI, até que casos graves possam ser transferidos para uma UTI convencional. “Hoje (ontem) temos 3 pacientes em ventilação mecânica”, concluiu Maitê.

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