Índios podem deixar Montenegro e se transferir para Capela de Santana
Na última segunda-feira foi Dia do Índio, 19 de abril, uma data lembrada pelos indígenas para reforçar a sua cultura e direitos. Em Montenegro, um grupo de Kaingang vive um impasse sobre a incerteza do local onde a aldeia deve ficar.
Os kaingang chegaram a Montenegro no final de 2017, vindos de tribos de cidades como Nonoai, Redentora e Carazinho. No início eram seis famílias que se instalaram numa área particular na margem da RSC 287, próximo do trevo do Posto Ipiranga, no bairro Santo Antônio. O local era considerado de risco, devido aos alagamentos. No ano seguinte se transferiram para uma área do Estado, próximo ao Parque Centenário. E aí iniciaram as reclamações de vizinhos, além do preconceito. Hoje são 21 famílias, com 74 pessoas, sendo mais de 40 crianças, que vivem em onze casas de madeira ou barracos, numa área de aproximadamente quatro hectares que integra o terreno da Escola Estadual AJ Renner (Industrial). Além de o espaço ser pequeno, falta estrutura, como de banheiros, tendo sido usados de uma creche em construção, situada bem ao lado, na Rua Vereador João Vicente. Moradores próximos, em reuniões e abaixo-assinados, já pediram a remoção, por considerarem que existe conflito de culturas que são incompatíveis no local em termos de convivência urbana.
O cacique Eliseu Claudino lamenta que ainda exista muito preconceito com relação aos povos indígenas. Ressalta que os índios têm respeito pelos vizinhos e pela comunidade, mas muitos não respeitam os indígenas, inclusive com comentários ofensivos, como críticas nas redes sociais. Até xingamentos ocorreram, de pessoas que passavam pela aldeia. Os próprios índios, na época, fizeram um protesto contra o que consideraram uma discriminação. Mas hoje o cacique Eliseu diz que a situação está mais tranqüila. Os índios, inclusive, manifestaram que aceitavam mudar para outro local, desde que fosse uma área maior e com melhor estrutura.
Uma das áreas cogitadas e que também pertence ao Estado seria no bairro Zootecnia, próximo da Unisc, na antiga Estação Experimental e hoje Centro de Treinamento de Agricultores de Montenegro (Cetam). Ali próximo já ocorreu um assentamento de colonos sem terra em 1991. Entretanto, o Cetam segue em atividade, com vários cursos para agricultores, sob administração da Emater. Por isso estão sendo estudadas outras opções. E uma delas, segundo o próprio cacique Eliseu, é uma área também do Estado situada no município vizinho de Capela de Santana. Os índios inclusive estiveram na antiga área do Centro de Treinamento da Mecanização da Lavoura (CTML). No local, após a desativação do CTML, chegou a funcionar uma escola agrícola e também a própria escola estadual Manoel Almeida Ramos. “Fomos olhar. Achamos boa a área. Falta luz, água e estrutura, mas isso podemos ver com a Sesai (Secretaria Especial de saúde Indígena) e Funai (Fundação Nacional do Índio)”, diz o cacique Eliseu. “Estamos esperando a resposta do Estado”, completa, dizendo que deve ser tomada uma decisão logo, já que o inverno se aproxima e algumas famílias ainda estão em barracas de lona, o que aumenta os riscos, principalmente de doenças nas crianças. “Queremos construir casas de madeira, com banheiros”, explica. No ano passado os índios inclusive sofreram um surto de coronavírus, mas agora já estão todos vacinados, inclusive com a segunda dose.
A reportagem buscou contato com a Prefeitura de Capela de Santana. Mas segundo a Assessoria de Comunicação do município, não se tem qualquer informação oficial e nenhum órgão do Estado entrou em contato com a Prefeitura.
O cacique Eliseu e mais alguns indígenas assentados em Montenegro e de outras regiões viajaram na última semana para Brasília, onde participaram de ações em alusão ao Dia do índio e também para tratar da definição da área. Foram três dias de viagem de ônibus e em Brasília ocorreu uma manifestação na frente do Palácio do Planalto, com reivindicações de direitos como pela definição de terras indígenas, proteção, fim da exploração e mineração.
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