Pernambucanos encontrados em sistema análogo à escravidão voltam para casa
Após cinco meses de sofrimento, um final feliz para a história de dois trabalhadores pernambucanos encontrados, na última sexta-feira, dia 20, em sistema análogo à escravidão em Montenegro. Por meio de denúncias, os jovens de 20 e 28 anos foram encontrados alojados dentro de um contêiner junto a um canteiro de obras no bairro Olaria, na margem da rua Osvaldo Aranha, próximo da antiga fábrica da Antarctica. Nesta semana, com apoio do Município, eles voltaram para casa, em Pernambuco, onde darão prosseguimento a suas vidas.
O secretário municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania, Luis Fernando Ferreira, enfatiza que as condições em que os trabalhadores foram resgatados era extremamente precária. “A estrutura em que eles ficaram não tinha isolante térmico e o chuveiro estava queimado”, detalha. Além disso, os trabalhadores não tinham papel higiênico, nem um local adequado para lavar roupas. A SMHAD também identificou irregularidades com os seus pagamentos e falta de Equipamento de Proteção Individual (EPI). “Não havia condições deles permanecerem naquele espaço”, destaca Ferreira. A empresa ainda passará por uma fiscalização para que o caso seja apurado.
Nesta terça-feira, dia 25, Lailson dos Santos Roque e Anderson José Nazário Lima da Silva viajaram para a sua terra natal e receberam todo o apoio necessário do Município. Depois de um contato da Prefeitura, a empresa de construção civil, com sede em Estrela, pagou as contas dos trabalhadores e garantiu rescisão completa e aviso prévio indenizado, além de passagens de volta para casa.
Os dois jovens agradeceram o apoio do Município e enfatizaram as condições em que trabalhavam. “Era mesmo um trabalho escravo”, disse Anderson. Lailson ainda agradeceu o apoio da população, que se manifestou indignada nas redes sociais. “Espero um dia poder voltar aí, com as coisas totalmente diferentes”, destaca.
O secretário da SMHAD acompanhou os jovens até o aeroporto Salgado Filho e enfatizou que é inadmissível que, em 2022, algumas pessoas ainda sejam tratadas desta forma. “Eles não têm de agradecer nada. Nós que temos de pedir desculpas por eles terem sofrido isso dentro da nossa cidade”, afirma. Ferreira ainda destaca que o Município está empenhado em impedir que isso ocorra novamente. Denúncias podem ser feitas por meio do telefone 3632-3715.
Reportagem esteve no local
A reportagem do Fato Novo esteve no local na última sexta-feira, após a Prefeitura de Montenegro, através da Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania, receber denúncia de que dois homens estariam trabalhando numa obra em Montenegro em condições muito precárias e análogas à escravidão.
Os dois rapazes estavam só de camisetas de manga curta e trabalhando na construção de um pavilhão. Eles ficavam alojados num contêiner com condições bastante precárias. Além de muito frio, o banheiro tinha esgoto a céu aberto, num buraco, junto ao contêiner. Sequer tinha papel higiênico, sendo usadas folhas de caderno. Informaram que o banho era de água fria, pois o chuveiro estava queimado. “Quando vieram de Pernambuco tiveram custo de deslocamento e também de alojamento e alimentação. E tudo isso estaria sendo descontado deles. No final do mês ficavam sem nenhum recurso para fornecer para suas famílias, que foi o intuito pelo qual vieram para o sul, buscando conseguir uma condição para seus familiares que residem no Nordeste”, destacou o secretário Luis Fernando. “Estavam vivendo aqui sem as mínimas condições. É muito triste se deparar com isso, numa situação completamente desumana”, completa. “É importante o investimento em Montenegro, com a construção de vários prédios, mas não se pode utilizar mão de obra de forma escrava de maneira alguma”, completa.
Os dois rapazes disseram que estavam trabalhando em Montenegro faz cerca de dois meses, mas vieram para o Rio Grande do Sul no final do ano passado. “A gente trabalhava na roça em Pernambuco quando viemos para cá”, contou um deles, dizendo que inicialmente atuavam na construção civil em Estrela. Citam que na última semana, com a queda na temperatura, passaram frio, já que o contêiner não tem ar condicionado ou isolamento térmico. Por sorte ganharam um casaco de uma vizinha. “Passamos frio demais”, cita o mais jovem. Ambos têm filhos pequenos em Pernambuco e dizem que vieram atrás de melhores condições para oferecer para suas famílias. “Minha filha tem 1 ano e oito meses”, diz o rapaz de 20 anos. “Queríamos melhorar de vida e oferecer mais para nossas famílias. Mas aqui não deu não. Vamos voltar para Pernambuco e tentar arrumar emprego lá. Aqui não tá dando certo não”, declarou.
A reportagem falou com o representante da construtora, que estava no local da obra, mas ele preferiu não se manifestar sobre a denúncia.
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