Afinal, asfalto é bom ou ruim?

Dia desses, eu, Guilherme Batista e Jean Silva tivemos um debate muito interessante na Rádio América. Toda vez que o tema da pavimentação é trazido por alguma comunidade, ou ente político, a gente se pergunta sempre se o asfalto, afinal, é bom ou ruim. Toda vez que os poderes públicos anunciam com espalhafato o grande feito de que, finalmente, irão asfaltar uma rua ou uma estrada, o debate sobre esse asfalto ressurge. E é provocado pelos moradores, porque enquanto alguns querem de fato que haja uma melhor fluência de trânsito no entorno das suas residências, ou dos seus comércios, ou das suas empresas. E isto é natural e compreensível. Mas outros tantos resistem a essa ideia.
E há vários fatores que precisam ser avaliados, neste debate. Sem dúvida, melhorar o fluir de qualquer rua ou estrada é necessário. A pavimentação ela serve não só para melhorar o fluxo das pessoas e dos transportes coletivos, como também melhora a qualidade de acesso e o descolamento da produção agropecuária e industrial. Enfim, afeta todo o funcionamento de uma sociedade. Que, no nosso estilo de vida e mercado, precisa andar. E anda sem parar.
Porém, é notório, por exemplo, que o asfalto especificamente traz consigo a alta velocidade dos veículos. São mais vidas em riscos e cuidados necessários. Mais despesas aos cofres públicos em todos os sentidos. Além, é claro, de uma maior possibilidade de alagamento das ruas sempre que chove. Uma tragédia ainda maior em bairros ribeirinhos a cada enchente. Pois o asfalto tem, e comprovado cientificamente, uma dificuldade gigantesca de absorção das águas da chuva. E o tradicional entupimento dos bueiros. Isso quando os bueiros são lembrados e não simplesmente tapados e esquecidos nas ruas pavimentadas.
Então sempre temos todos aqueles debates sobre alterações na questão de segurança, e tranquilidade, que as ruas de bairros residenciais, com calçamentos transformados para asfalto, tiveram. Naturalmente, veículos mais pesados, como caminhões e ônibus, e até veículos leves, procuram as ruas de asfalto para fluir melhor no seu tráfico diário, e quase sempre apressado, de trabalho ou rotina. O que começa a colocar os moradores locais em risco, com o porque aumento do trânsito e consequente aumento também dos riscos. As crianças não brincam mais na rua. As calçadas ficam mais tensas. Os pets precisam ficar presos no pátio. Os idosos não podem mais andar sozinhos. E por aí vai.
Nas zonas rurais, as estradas são asfaltadas e, na sua esmagadora maioria, não recebem um centímetro sequer de acostamento. E isto logo em comunidades onde muita gente anda a pé, de bicicleta, a cavalo ou apenas precisam levar seu tratorzinho, ou sua carreta, ou seus animais, de uma terra para outra. Onde crianças caminham trechos grandes para ir à escola ou onde o transporte público passa. Como me disse um morador de localidade rural, antes ele não suportava a poeira da estrada. Mas a poeira só dava trabalho e não matava ninguém.
Mas vamos avaliar um ponto muito importante desta questão. As ruas asfaltadas criam problema de velocidade? Sim. Mas quem pisa nos aceleradores dos veículos é o asfalto, ou são os seres humanos que os conduzem? O asfalto cria alagamentos nas chuvaradas. Verdade. Mas bueiros entupidos criam ainda mais e são os próprios moradores que fazem isto. O asfalto é de péssima qualidade, fica esburacado a cada chuvisqueiro, jogam asfalto sobre as bocas de lobo e as estradas são feitas sem acostamento. Mas quem faz estes trabalhos mal feitos, focados apenas no lucro, são seres humanos. E outros seres humanos que deveriam acompanhar estas obras para que fossem feitas de forma correta, ou se omitem, ou não entendem nada do assunto, ou atendem interesses que não são públicos, do povo.
Ou seja: com os sem asfalto, o problema maior é humano. Educação, respeito, consciência. Ainda assim, particularmente, eu prefiro outros tipos de calçamento. Que dialoguem melhor com o meio ambiente. Com a pluralidade da vida. Com os limites essenciais e com a inversão dessa ótica de pressa e força em tudo que nos cerca. E se me perguntarem se quero asfalto na minha rua, educadamente irei recusar.



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