Pontes mortais

Há um triste ditado popular brasileiro, sobre ações de gestão pública, que afirma: “só se fará alguma coisa quando acontecer uma tragédia”. No caso das pontes estreitas da ERS 124, que ligam a cidade de São Sebastião do Caí a Pareci Novo e Harmonia, nem esta infeliz verdade, que o pensamento popular eternizou pela experiência das coisas não feitas, mal feitas ou feitas sempre tarde demais, se confirmou. Mais uma morte aconteceu ali. E há quantos anos sabemos que aquelas pontes são um atentado à vida humana?
A professora Geida Rovela Werle tinha apenas 53 anos. Voltava em sua Biz para casa, após mais um dia ativo de construção da cidadania e educação com os seus alunos. Além de uma professora adorada na Escola Municipal São José, em São Sebastião do Caí, onde dava aula, ela trabalhava com a mãe em uma confecção e ajudava o esposo na oficina onde morava, em Pareci Novo. Uma mulher guerreira e incansável. E que já havia passado, há dois anos, pela mesma tragédia familiar: na mesma rodovia, e também de moto, perdeu o filho, à época com apenas 19 anos.
Ao Fato Novo,a prefeita de Pareci Novo, Cristina Reinheimer, ao lamentar a morte trágica da professora, falou sobre a necessidade de uma nova ponte que ligue Pareci Novo com São Sebastião do Caí, entre a ERS-124 e a ERS-122. E citou o perigo que representam essas pontes estreitas do Matiel. Que os responsáveis por esta obra acontecer, no estado, ouçam a prefeita. E que os demais prefeitos da região esqueçam vaidades e se permitam agir de fato e movidos pela lógica. Ouçam o lamento das famílias. Ouçam a dor das crianças que perderam a sua professora. Ouçam os relatos absurdos que se multiplicam a cada semana. E ouçam, no mínimo, a voz do óbvio.
Todos sabemos que, desde que a ERS 124 foi asfaltada, em Pareci Novo, a fluidez do acesso à cidade melhorou muito, é claro. Porém, com este asfalto veio a óbvia multiplicação do fluxo de veículos. Principalmente de caminhões, a escoar a produção local. Ninguém sabia disso quando a estrada foi asfaltada? Onde estão os tais técnicos e doutos do assunto que levam anos pensando na rebimboca da parafuseta para atender o que o povo pede? Esqueceram de pensar que há consequências, em toda obra deste porte, e que elas precisam ser resolvidas ao mesmo tempo?
Para aumentar o drama, o trecho virou um atalho ótimo para acessar a Serra, seja para quem vem de Montenegro e região ou até do Vale do Taquari e ainda mais longe. Um problema que ficou muito pior com a implementação do novo formato de pedágio pelo governo. Mais caro e duplicado, se aumentou mais o que já existia: a fuga natural, o desvio desta cobrança.
Acontece que os geniais gestores, os mesmos que foram ágeis para implementar novos modos de enfiar a mão no bolso do pobre trabalhador da região, são muito lerdos quando o assunto é preservar a vida humana. E as tragédias se repetem. E todos sabem o que precisa ser feito. E nenhum faz coisa alguma.
Não se pode deixar este assunto ficar no esquecimento, aguardando a próxima morte. A permanência, por tanto tempo, destas pontes como única via de acesso naquele local, são um desaforo ao respeito e à cidadania.




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